Volta às aulas, as perdas e os ganhos na pandemia – crianças pré-escolares

Volta às aulas, as perdas e os ganhos na pandemia – crianças pré-escolares

Por Adriana Fóz

 

São muitos os pais que estão inseguros quanto ao o que decidir com relação a volta às aulas.

É seguro retomar as aulas presenciais? As crianças vão perder habilidades e competências se não retornarem às aulas? Há pesquisas comprovando o que deve ser feito?

Tenho recebido perguntas e relatos angustiados de pais e professores alegando medo do contágio, mas também da perda de aprendizagem dos filhos e alunos, neste segundo semestre de 2020.

Alguns fatos precisam ser colocados: embora haja divergências em relação ao grau em que as crianças apresentam risco de propagação algumas estimativas sugerem que os efeitos das crianças na escola são mínimos em comparação com outros esforços de distanciamento social, assim como mediante o fechamento das instituições serão impedidos de 2 a 4% das mortes, segundo matéria no The Washington Post, neste último dia 30 de junho. Ainda segundo a mesma fonte, “há também indicações de que as crianças têm metade da probabilidade de se infectarem do que os adultos e têm muito menos probabilidade de espalhar o novo coronavírus do que os adultos. As crianças que são infectadas têm um risco muito baixo de morbidade e mortalidade significativas por infecção. Estudos mostram que crianças são mais saudáveis ao voltarem para as escolas”, pontua estudo no qual o jornal americano se baseou.

Lendo também o que grandes especialistas britânicos e americanos têm discutido – já que eles estão um pouco a frente nas experiências com relação ao vírus Covid-19, temos que ter em mente de que alunos estamos falando.  É ainda mais notório aqui no Brasil, o fato de que devemos considerar dois grupos para responder à estas perguntas. Um dos grupos é constituído de alunos privilegiados socialmente e financeiramente e o outro são os alunos vulneráveis e filhos de pais com baixa renda.

Quanto ao primeiro grupo, na pior das hipóteses, alguns estudantes poderão regredir um pouco mais do que durante as férias escolares normais, já que não terão a oportunidade de atividades intelectualmente estimulantes, como aulas de teatro, viagens ao museu e bibliotecas, acampamentos, maiores contatos com colegas e professores, porém provavelmente terão compensações com os estímulos familiares, com os recursos, cultura e conhecimentos prévios de seus pais e cuidadores.

Para estas famílias sugiro que leve em consideração suas necessidade e possibilidades individuais. Por exemplo, o caso de uma menina de 5 anos, Tamires, que mora com sua mãe, pois seus pais são separados. A mãe precisa retornar ao trabalho e está muito insegura e estressada com o fato da criança ter que ir morar com o pai fora de São Paulo, caso ela não consiga mudar as condições de seu trabalho. Seus pais, avós de sua filha estão em seu respectivo apartamento e têm mais de 70 anos de idade, o que não seria uma possibilidade para eles. Talvez para esta mãe levar sua filha meio período possa ser uma possibilidade.

Algumas Pré-escolas estão propiciando um espaço e condições bastante acolhedoras e protetivas, mas claro que toda exposição sempre tem riscos. Se essa fora a escolha ou a escolha menos ruim, também não elimina o fato dos cuidados continuarem, tanto para continuar a exigir devidas ações protetivas por parte da escola (como descrito mais adiante) quanto dela mesma, por ter que se sair de casa por meio período.

Um outro caso, os pais de Camila, 4 anos têm outros dois bebês, gêmeos. O pai precisa de muita concentração no trabalho remoto em casa e a mãe está absorvida com os cuidados maternais de crianças de colo. O que fazer, manter Camila em casa, o pai a beira de um ataque de nervos e a mãe que ainda amamenta, ter que entreter e dar conta de 3 crianças? Medo de separar do marido, medo de o marido ser despedido se não prosperar seus negócios, medo de sua filha mais velha não ser devidamente estimulada para uma melhor aprendizagem. Qual é então o risco maior?

Veja que mesmo nesta equação ainda tem outros pontos a serem computados, mas para este casal a decisão foi levar a filha 3 vezes na semana para a escola e montaram, junto a outras 3 mães e pais do condomínio, um sistema de entretenimento e cuidados na casa de um deles (e aproveitando o espaço ao ar livre do prédio), onde os pais se revezariam para cuidar das 6 crianças. Felipe, também 5 anos, com 2 irmãos mais velhos, tem características bastante hiperativas, seu pai fora diagnosticado com déficit de atenção aos 15 anos. Estas informações levaram os pais  optarem pelo filho caçula voltar a escola.

Quanto ao segundo grupo, das crianças mais vulneráveis socialmente, as perdas são maiores para as famílias como um todo, já que seus pais têm menos condições de criar uma estrutura que continue a estimular seus filhos de modo mais adequado. Sem falar do aspecto insegurança doméstica, dos quais estas crianças estão mais suscetíveis – uma vez que dados apontam para a maior violência recair sobre esta população.

Opções e soluções sempre existem, tudo depende das nossas prioridades, acesso a informações competentes e adequação da régua das expectativas e das necessidades será preciso em qualquer das possibilidades. E em todas essas possibilidades a solidariedade, empatia e generosidade são imperativas para que todos, não apenas sua família, se fortaleçam e se protejam. Se tivemos um aprendizado, este foi que não adianta pensarmos apenas em nosso “umbigo”.  Inclusive segundo Yuval Harari, autor de Sapiens, que esta pandemia deve ter alguns aprendizados, assim como o mundo só prosperará se não apenas eu, você ou o outro estiverem bem, mas todos, pois segundo ele vivemos mais uma crise humana do que por um vírus.

 

Quais são as necessidades das crianças com menos de 6 anos?

A criança pré-escolar precisa de afeto, estímulos sensoriais, motores, verbais, sociais e segurança que podem ser feitos em formatos diversos, além da escola formal. Diferentemente das crianças mais velhas, entre 6 e 12 anos, que precisam de ações mais estruturadas e específicas para uma aprendizagem mais competente.

Pesquisas americanas apontam que a perda de aprendizado durante as férias de verão nos EUA depende do histórico da criança. Algumas destas descobriram que crianças mais ricas realmente melhoram seu desempenho de leitura ao longo do período, enquanto são as famílias mais pobres que tendem a apresentar maiores perdas, uma vez que possuem menos recursos educacionais durante as férias. Recursos são os cuidados, as interações, as opções de estimulação e a afetividade inerente a qualquer processo de amadurecimento e desenvolvimento saudável.

Estudos também mostram que a educação em casa também pressupõe que os próprios pais sejam suficientemente educados e tenham tempo suficiente para poderem ajudar nas lições. Tempo com qualidade, desafios apropriados e competentes fazem diferença.

A criança da primeira infância (3 aos 6 anos aproximadamente) fazem parte de períodos chamados de pré-operatório e operatório concreto onde a brincadeira, as experiências físicas e emocionais, a sociabilidade, segundo o importante psicólogo Jean Piaget.  Para o neurocientista contemporâneo Richard Davidson é uma fase onde o cultivo da empatia e criatividade são facilitados e evidenciados. A própria neurociência cognitiva reconfirma a relevância deste período para atividades de coordenação e estimulação motora, reconhecimento de emoções, sensibilização para música. Esta fase é a sede do entusiasmo e curiosidade, logo todo ambiente educativo que promover estas duas palavrinhas está cumprindo um de seus papéis.

 

O que é mandatória para aqueles que retornarem às escolas?

Quanto a aspectos ligados a saúde pública, de acordo com a Unicef, algumas medidas devem ser garantidas caso seu filho retorne à escola que são:

  • Escalonar o início e o fim do dia escolar
  • Horas de refeição escalonadas
  • Movendo as aulas para espaços temporários ou ao ar livre
  • Manter a escola em turnos, para reduzir o tamanho da turma

 

As instalações de água e higiene já estão bem difundidas, mas não podemos esquecer de checar se estão de acordo ou se “é para inglês ver”. Não menos importantes são as medidas de higiene, incluindo lavagem das mãos, etiqueta respiratória (tosse e espirros no cotovelo), medidas físicas de distanciamento, procedimentos de limpeza de instalações e práticas seguras de preparação de alimentos. A equipe administrativa e os professores também devem ser treinados sobre distanciamento físico e práticas de higiene escolar, ainda segundo a Unicef. Para tanto observe pessoalmente e faça mais perguntas do que exponha seus desejos e expectativas. As respostas das escolas é que lhe farão seguros e sentirão que todos estarão colaborando para um mesmo fim. Afinal as famílias também tem seus deveres e responsabilidades para com as escolas.

Uma outra medida tão importante quanto é como a escola apoiará a saúde mental dos alunos e combaterá qualquer estigma contra pessoas que estão com problemas de saúde (doença) ou financeiros. Ainda que a pré-escola não tenha o ensino formal ou notas e avaliações protocolares é preciso fazer, no mínimo, relatórios e observações individualizadas e comparativas e ficar atenta a possíveis necessidades tanto do ponto de vista do aprendizado de habilidades quanto de dificuldades relacionadas a saúde mental, assim como uma maior ansiedade, dificuldades repetitivas em lidar com frustrações, e um estresse que dure no tempo e na intensidade. A escola não deve ser responsável por diagnosticar, tampouco por tratar, mas a acuidade e pertinência em observar, relatar aos pais ou responsáveis e poder encaminhar é fundamental.

Já não é de hoje que sabemos o quanto um ambiente escolar pode ser promotor da saúde mental de seus alunos, além de seu principal papel como ser educador de habilidades cognitivas e socioemocionais.

Caso ainda tenham dúvidas, eu ou especialistas da Neuroconecte estamos prontos à lhes ajudar, entre em contato conosco.

 

Fontes:

https://www.washingtonpost.com/outlook/2020/06/30/reopen-school-fall-health/

https://www.unicef.org/coronavirus/what-will-return-school-during-covid-19-pandemic-look

https://www.sciencemag.org/news/2020/05/should-schools-reopen-kids-role-pandemic-still-mystery

Como se preparar para voltar à escola após um período prolongado de férias

Como se preparar para voltar à escola após um período prolongado de férias

O período de férias de verão no Brasil, na maioria das escolas, é longo e envolve os meses de dezembro e janeiro e, em alguns casos, o retorno só acontece em fevereiro. Mas retornar à escola após um extenso intervalo pode gerar medo e ansiedade na criança. O aluno precisa entender que só vai retornar à escola ou iniciar um novo ciclo, mas por que isso é tão difícil? Se a criança fez esse questionamento sobre voltar para a escola, é melhor seguir algumas dicas preparadas pela neuropsicóloga – Adriana Fóz e pela psicopedagoga – Alcione Marques, da NeuroConecte:

 

A 1ª Etapa: Facilite o retorno à rotina

1.   Estabeleça metas. Alguns dias antes de voltar para a escola, sugira que a criança pegue uma caneta e um papel e escreva uma lista de objetivos pessoais que ela gostaria de alcançar durante o semestre. Alcione Marques comenta que “esses objetivos podem ser sociais, intelectuais ou físicos, mas, ter algo em que trabalhar, pode aliviar a ansiedade do recomeço.” Alguns objetivos podem ser:

  • Fazer novos amigos;
  • Ingressar em um clube (ou iniciar o seu próprio);
  • Obter notas melhores;
  • Experimentar novas atividades culturais ou esportivas, como participar de um teatro ou uma nova modalidade de esporte.

 

2.  Revisar a lição de casa. Ou, se a criança não teve dever de casa atribuído no intervalo, como a leitura de um livro, por exemplo, o ideal é reservar um tempo para examinar as últimas tarefas que fez em classe antes do término do ano letivo. Isso a lembrará de onde parou na sala de aula e examinar os trabalhos de casa pode impedir que esqueça de concluí-lo.

Aproveite esse tempo também para ajudar seu filho a refletir sobre como fez a lição de casa no ano anterior, se consegue pensar em alguma melhoria que possa fazer na rotina de trabalhos de casa, voltar à escola pode ser o momento perfeito para fazer uma mudança e aprimorar seu método de estudo.

 

3.  Proponha que o aluno se conecte com um professor que o aluno gosta ou respeita. Pode ser um professor da matéria favorita ou um que lidera uma atividade ao qual pertence ou aquele do esporte. Se o professor favorito estiver ocupado naquele dia, verifique se ele tem tempo para conversar mais tarde na semana.

 

4. Ambientando-se na nova escola. No caso da criança estar indo para uma nova escola, leve-o (ou se ele já tiver autonomia, proponha que ele vá até lá) para familiarizar-se. Procure ver onde fica a lanchonete, a quadra, teatro, sua sala de aula e a biblioteca. Não se esqueça dos banheiros!

 

5. Listar as coisas pelas quais se pode esperar. Pode haver uma excursão em uma semana ou duas, ou talvez a aula de ciências tenha um experimento legal planejado – seja o que for, é provável que a criança ou o adolescente tenha algo pelo que esperar quando voltar para a escola. Ao fazer uma lista dessas coisas, o aluno poderá substituir qualquer medo que tenha de voltar pelo entusiasmo para retornar.

 

6. Não se apressar em voltar ao ritmo das coisas. Não há como contornar isso e o aluno precisará de algum tempo antes que pareça normal voltar à escola. Adriana Fóz, sugere “Mostre para a criança que não deve ser dura consigo mesma. Esse processo pode levar uma semana ou duas e os pais podem ajudá-la dizendo coisas como:

“É normal ficar um pouco nervoso/nervosa com a volta depois de um longo intervalo. Tudo vai ficar bem!”

“A maioria das crianças não quer voltar para a escola pelo fim das férias, mas lembre-se que você logo se acostumará e além disso, poderá ver seus amigos! Poderá contar a eles sobre as suas aventuras nas férias.”

 

2ª Etapa – Começar o primeiro dia de volta com o pé direito:

1. Reajuste o horário de sono, se necessário. Ao longo das férias, a criança pode ter gostado de dormir ou ficar acordado até tarde. Isso pode dificultar o retorno à rotina escolar. Para redefinir sua programação de sono, deve:

  • Retornar à rotina alguns dias antes do tempo;
  • Deixar as cortinas abertas para obter luz natural pela manhã;
  • Não fazer as refeições tarde da noite;
  • Limitar as atividades estimulantes, assim como, para os mais velhos, a ingestão de cafeína e bebidas energéticas.

 

2. Arrumar com antecedência a mochila e escolher as roupas. Oriente a criança para que separe os materiais escolares e escolha sua roupa na noite anterior para economizar tempo e diminuir o estresse. Pela manhã pode levar mais tempo do que o necessário para executar essas tarefas simples, então preparar as coisas antes torna a manhã seguinte mais fácil.

Você pode ainda orientar seu filho a fazer uma lista de verificação de volta às aulas, anotando todos os materiais necessários, como livros, uma calculadora, lápis, cadernos e assim por diante.

 

3. Ter uma boa noite de sono. A privação do sono é terrível para o corpo e pode resultar em acne, ganho de peso, dificuldade de concentração e irritabilidade. Oriente seu filho para que durma cedo, conseguindo o sono necessário. Para as crianças entre 6 e 12 anos o ideal é entre 9 e 12 horas e para a maioria dos adolescentes deve ficar entre 8 e 9 horas e meia.

 

4. Comece o dia mais cedo do que o normal. O aluno estará provavelmente fora do ritmo, o que fará com que leve mais tempo do que o esperado. Sugerimos que acorde a criança um pouco mais cedo do que o normal para que tenha tempo extra para poder fazer tudo o que precisa sem estresse.

 

5. Tomar um café da manhã saudável.  Um café da manhã equilibrado é essencial e auxilia na aprendizagem do aluno e em seu bem-estar ao longo da aula. O café da manhã saudável e regular contribui para a memória, níveis diários de energia e humor.

 

6. Se for possível, atividade física moderada antes da aula. Um pouco de exercício antes de ir para a escola pode auxiliar para manter bons níveis de atenção e bem-estar ao longo do dia.  O exercício leve também ajudará a criança ou adolescente a ficar menos sonolento e a manter o alerta.

 

3ª Etapa – Mantendo uma boa rotina

 

1. Ter uma programação regular. Ajude o aluno a organizar suas atividades em um calendário que pode conter as atividades na escola e extracurriculares.

 

2. Habituar a rotina através da consistência. Manter a rotina torna mais fácil lidar com as exigências dos estudos.

 

3. Converse entre pais e filhos. É importante que os pais estabeleçam conversas com os filhos não apenas sobre as atividades escolares, mas também sobre os seus sentimentos. Os pais podem dar alguns bons conselhos ou mesmo compartilhar suas próprias experiências da infância, o que pode aproximá-los.

 

4. Lidar com o inesperado. Mesmo as melhores rotinas não estão a salvo da aleatoriedade da vida. Sempre há coisas que exigirão o ajuste da rotina e você pode ajudar seu filho a lidar com estes momentos. Se for menor oriente-o nas mudanças, quando um pouco mais velho, faça perguntas que o ajudem a encontrar a melhor alternativa para se reorganizar.

 

Dicas para os alunos que já têm maior autonomia:

Estabeleça metas. Alguns dias antes de voltar para a escola, sugira que a criança pegue uma caneta e um papel e escreva uma lista de objetivos pessoais que ela gostaria de alcançar durante o semestre. Esses objetivos podem ser sociais, intelectuais ou físicos, mas, ao ter algo em que trabalhar, pode aliviar a ansiedade de começar de novo. Alguns objetivos são:

  • Manter a organização. Estar atrasado para a aula pode causar estresse quando já tem alguma resistência para recomeçar o ano escolar.
  • Ignorar o café da manhã pode economizar tempo, mas pode deixá-lo menos capaz de se concentrar. Se não tiver tempo para comer, pegue uma maçã, uma barra de granola ou banana antes de sair.
  • Sempre verifique sua mochila na noite anterior. Verifique se tem tudo o que precisa. Isso economizará tempo pela manhã.
  • Certifique-se de que ajustou seu despertador!
  • Tente se apresentar a novos alunos da sua turma ou procure ajudar um colega novo a se enturmar na escola.

A NeuroConecte desenvolve um trabalho voltado para a Neurociência Educacional, Aprendizagem Socioemocional e promoção da Saúde Integral nas organizações educacionais, entre em contato e conheça nosso trabalho na área da Educação!.