A pandemia e a paciência na adolescência

A pandemia e a paciência na adolescência

Por Adriana Fóz

 

A pandemia do Covid-19 tem mostrado muitas mazelas e dificuldades que já existiam antes do novo coronavírus. O comportamento de risco do adolescente ou a vulnerabilidade destes para problemas de saúde mental e para acidentes já eram conhecidos, mas agora torna-se evidente que os jovens acabam se expondo mais, não por não compreenderem a gravidade ou por falta de competência para entendimento de situações, mas sim por acharem que estão imunes, por acreditarem que são mais fortes ou acharem que as noticias podem ser alarmistas, ou ainda que seus pais estão exagerando, dentre outros. Estas foram algumas das falas de jovens entre 16 e 19 anos explicando porque não estavam de máscara ou porque estavam participando de baladas nos últimos meses.

Testemunhamos durante o auge da pandemia a volta das festas, das raves embora alguns grupos nem interromperam a ocorrência das aglomerações festivas. Os adolescentes, de modo geral, não levam a sério alguns riscos pois seus cérebro estão ávidos por desafios. Risco traz excitação, adrenalina do perigo, a dopamina (neurotransmissor) do prazer e testa competências desafiando suas habilidades.

Como alegam alguns pesquisadores, os adolescentes têm um carro super potente, tanque cheio, mas freios ainda em acabamento. Logo eles tem muita energia, são ágeis, rápidos, aprendem tudo com muita facilidade porém seus autocontroles ainda precisam de treino para se tornarem mais adequados às situações de perigo. Desta forma eles  não estão tão bons na tomada de decisões, mediante uma situação  geradora de riscos, suas atitudes são ainda muito baseadas nas emoções, no imediatismo.

A responsabilidade de algumas atitudes e pensamentos imaturos como participar de uma rave sem usar máscaras ou qualquer outra medida de segurança, higiene ou distanciamento social é do córtex pré-frontal de seus cérebros.

O cérebro tem regiões que vão sendo amadurecidas com o tempo e com os estímulos do ambiente, na conexão com outros indivíduos e na inter-relação com seus aprendizados. No caso do jovem adulto que já atingiu a maturidade legal (aquele que já pode tirar carta de motorista, responder na justiça, etc.), mas não tem ainda maturidade cerebral. Isso significa que algumas funções refinadas para determinados comportamentos e tomadas de decisão ainda não foram finalizadas.

O ser humano tem um cérebro que amadurece desde quando somos bebês e da região posterior em direção a região anterior, ou ainda, de traz para frente, onde a parte chamada córtex pré-frontal é a última a ser finalizada. No córtex pré- frontal, está sede do julgamento, autocontrole, tomada de decisão responsável, da capacidade ser mais flexível para ver vários ângulos de uma situação. É importante entender que aqui falo da maturação de um órgão do corpo humano, que por meio dos estudos da neurociência, sabemos que se dá para além dos 18 anos.

Lembro aqui da diferença entre puberdade e adolescência. A primeira tem a ver com os hormônios, com o desenvolvimento do corpo voltado para o preparo da reprodução, a priori. A adolescência é mais voltada para as mudanças no cérebro, onde os neurotransmissores e a conectividade entre os neurônios são os grandes protagonistas de tantas transformações.

A puberdade diferentemente da adolescência é mais visível e tem um tempo mais demarcado pela biologia, onde nas meninas ocorre entre 10 e 14 anos e nos meninos entre 12 e 15 anos. Existem três fases da adolescência — a adolescência inicial, que vai dos 12 ao 14 anos; a adolescência intermediária, dos 15 ao 17 anos; e adolescência final, dos 18 anos em diante. A puberdade sempre antecede a adolescência, tem um tempo mais pré-determinado do que as mudanças no comportamento, fase que deixa o cérebro adolescente mais vulnerável à problemas de saúde mental, tal como transtornos e doenças mentais.

Portanto, é importante que pais, escolas e serviços de saúde e educação criem estratégias, desenvolvam programas de sensibilização e prevenção do Covid-19 voltados para esta população, que diferentemente do que eles querem pensar, também são grupo de risco.

Por outro lado, ao mesmo tempo que são arrojados, destemidos e arriscam burlar regras também são mais capazes de empatizar com aqueles que sofrem, que têm medo e que são menos favorecidos. Gostam e são sensibilizados por causas sociais e têm necessidade de se conectarem com outros, e relembro, aprendem tudo muito rápido.

Ajudá-lo a treinar a paciência, a perseverança são oportunidades em tempos de pandemia e para treinos de maturidade e autonomia.

Para pais, adolescentes e escolas que queiram saber mais sobre como sensibilizar o jovem e como fazê-lo participar ativamente das causas sociais e da prevenção do covid-19, bem como da promoção da saúde mental e emocional, convido a conectar com a equipe neuroconecte formada por especialistas multidisciplinares com mais de 20 anos de experiência.

 

Para saber mais:

HERCULANO-HOUZEL, S. O Cérebro Adolescente – A neurociência da transformação da criança em adulto. Academia.Edu, 2011.
disponível em:
https://www.academia.edu/39033029/Suzana_Herculano-Houzel_2

VAN LEIJENHORST et al. Adolescent riscky decision making: Neurocognitive development of reward and control regions. Neuroimage vol. 51, issue1, pgs 345-355, 2010