Você fala sozinho? Isto é um problema?

Você fala sozinho? Isto é um problema?

Por Adriana Fóz

 

Quando me convidaram para uma entrevista sobre o tema Falar em voz alta consigo mesmo, achei curioso no entanto muito interessante. Principalmente agora, em tempos de pandemia onde muitos podem ter ficado mais isolados, mais sozinhos ou ainda diminuído muito o convívio com amigos, familiares e colegas, nossa natureza humana “fala mais alto”. Logo podemos ter aumentado aquela conversa interna e ainda passamos a criar mais conversas conosco em voz alta.

Estou ficando maluco? De modo geral falar consigo mesmo pode até ser loucura, mas aquela das mentes geniais. Tem estudos que mostram o quanto a genialidade precisa de uma personalidade com menos freios, maior expansividade e falar em voz alta é uma das características das mentes sem fronteiras.

Por outro lado, podemos entender a fala como um instrumento para adaptação e competência em prol da evolução das espécies, onde nosso cérebro aperfeiçoou a capacidade de comunicação visando a sobrevivência. Sim, é coisa de humanos, mais especificamente da área neocórtex de nosso cérebro. Esta região cerebral insere o giro frontal inferior esquerdo ou ainda, a área de Broca, cuja função é o aspecto motor de falar para que outros locais complementem,  produzindo a fala. Temos ainda áreas cerebrais para ver, ouvir, movimentar, andar, além de outros “apetrechos” físicos, cognitivos, psicológicos que nos propiciam e habilitam a falar.

Desde bebês treinamos várias habilidades para falar. Imitamos, gesticulamos e buscamos nos conectar ao mesmo tempo que o adulto atribui significado e passa a ser modelo para o desenvolvimento da linguagem. A linguagem tem uma relação intrínseca com a inteligência, que passa de sensório-motora ao pensamento formal onde esta primeira tem um papel crucial.  A criança aprende o mundo por meio das sensações, percepções, atividades motoras, emoções, interação, comunicação dentre outros. A fala é uma forma de interação que conta com a construção da linguagem e busca de significados.

O tema da linguagem junto aos processos cognitivos e emocionais é grandioso e complexo demais para tratarmos aqui neste breve texto, mas é  importante indicar que a linguagem falada é uma necessidade humana e faz parte de várias competências.

Quando falamos sozinhos estamos então exercitando  nossas habilidades verbais, inter e intrapessoais, no mínimo. Também pode ajudar na atenção, concentração de atividades e facilita a organização dos pensamentos e sentimentos.

Falar sozinho traz maior clareza dos pensamentos, motiva a encontrar o que busca, ajuda a aprender mais rápido e melhor.

Logo, a maioria das pessoas que falam sozinhas são saudáveis. A exceção é quando a pessoa não percebe sua fala ou não entende o que fala, por exemplo.  Assim como quando crianças e adolescentes, continuam por um tempo maior, a ter amigos imaginários, interagindo com eles ou quando demoram muito tempo a falar, se comunicar, pois são situações que podem indicar uma dificuldade e até um distúrbio psiquiátrico. Mas reafirmo, a grande maioria da população  só tem vantagens com este diálogo interior externalizado, principalmente quando estamos com raiva. Imaginem bater a perna na quina da mesa e não falar consigo:

  • Que M! De novo, não acredito que estou fazendo isso, batendo nesta quina novamente!

As chances de bater a perna no mesmo lugar vão diminuir, pode apostar!

Para saber mais: procurar pelos pesquisadores Alexander Luria, Jean Piaget, Lev Vygotsky.

 

Para encontrar artigos mais recentes sobre o tema:

DeSouza, M. L., DaSilveira, A. C., & Gomes, W. Verbalized inner speech and the expressiveness of selfconsciousness. Qualitative Research in Psychology, 2008.

Gary Lupyan A. & Daniel Swingley B.A. Self-directed speech affects visual search performance Department of Psychology, University of Wisconsin-Madison, WI, USA, 2011: http://dx.doi.org/10.1080/17470218.2011.647039

Eu falo muito sozinha e me preocupo com isto

“Meu pai tem falado sozinho e às vezes não sei se ele está tendo controle sobre seu pensamento”

“Meu filho tem 12 anos e tem 2 amigos imaginários com os quais interage e tem deixado de brincar com outros amigos por conta destes”

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