
Escolas particulares e públicas estão sendo fechadas em virtude do coronavírus, mas o país está preparado para o ensino a distância?
Educadores com experiência em aprendizado remoto alertam que o fechamento pode afetar o progresso acadêmico, a segurança e a vida social das crianças.
Conforme o artigo de Kate Taylor publicado no Jornal New York Times, mais de 30.000 escolas de ensino fundamental e médio nos Estados Unidos estão sendo fechadas devido as preocupações com a disseminação do coronavírus, afetando pelo menos 20 milhões de estudantes, a maioria dos quais passará para o aprendizado a distância.
No Brasil, na semana passada algumas universidades públicas e particulares anunciaram a suspensão das aulas, a princípio neste mês de março e, posteriormente as escolas particulares também seguiram essa tendência, embora muitas escolas ainda estejam em pleno funcionamento pelo país.
Assim como nos Estados Unidos, no Brasil as escolas particulares estão se preparando para aplicar as aulas à distância por meio de aplicativos da área de educação ou oferecendo trabalhos de pesquisa e outras atividades, uma vez que não se tem uma perspectiva clara do tempo que o afastamento será necessário e recomendado pelas autoridades da saúde.
No entanto, quando consideramos a realidade brasileira, é importante lembrar que um grande número de residências não contam com computadores ou internet de banda larga, o que pode afetar diretamente o acesso à tecnologia adequada para que crianças e jovens possam dar sequência ao aprendizado escolar.
É mais provável que famílias de baixa renda utilizem smartphones para acessar a Internet e as crianças nessas famílias podem não ser capazes de usar um software de aprendizado mais sofisticado, que requer um tablet ou computador. Educadores alertam ainda para a possibilidade de que irmãos tenham apenas um único aparelho de telefone celular para acessar suas atividades.
Outro ponto a ser observado, é que crianças mais novas exigem supervisão e podem precisar de ajuda de um adulto para os acessos on-line. Até o adulto mais experiente em tecnologia poderá achar difícil fazer isso ao mesmo tempo em que estará trabalhando de casa – um cenário mais comum à medida que o coronavírus se espalha. Os pais que continuam trabalhando fora de casa enquanto as escolas estão fechadas precisarão providenciar assistência infantil, onde a ajuda técnica pode ser escassa.
Talvez uma das coisas que as escolas podem fazer para se preparar para o fechamento seria abrir um canal para a troca de mensagens de texto entre a escola/professores e os pais, facilitando o envio de atividades e tarefas. Mas isso não é uma tarefa fácil, considerando que a grande maioria dos professores não está acostumada a atuar desta forma.
Alunos com necessidades especiais podem ser os mais afetados. Alguns desses alunos têm problemas comportamentais e podem até ter uma melhor performance com as atividades on-line, porque há menos distrações. Outros, porém, terão maiores dificuldades por não ter acesso direto aos professores e colegas.
É importante lembrar que muitas crianças brasileiras dependem das escolas para se alimentarem ou para permanecer enquanto os pais trabalham. A recomendação do Ministério da Saúde é que os pais não deixem as crianças com os avós, em função do grau de risco para pessoas a partir dos 60 anos, mas onde e com quem deixar essas crianças serão questões que podem criar um grande problema para as famílias.
Esta é uma situação difícil e sem precedentes, que está exigindo medidas para as quais não temos experiência. Esperemos que as instituições e que todos nós consigamos encontrar o melhor caminho para que as crianças e jovens não sejam tão prejudicados neste momento.