A Saúde Mental dos Professores, obrigados a se reinventar

A Saúde Mental dos Professores, obrigados a se reinventar

Especialistas analisam principais problemas que afetam os professores em seu dia e dão dicas para a saúde mental

Lidar melhor com a ansiedade, o estresse e as emoções desagradáveis (também chamadas comumente de “negativas).

Considerado um dos principais desafios que envolvem a saúde mental do professor, já que a atividade docente é uma das profissões que mais exigem trabalho mental.

Se não forem bem manejados, estes fatores podem gerar grande desgaste que repercutem sobre a saúde física e emocional e, assim, afetam significativamente o desempenho profissional.

Nessa perspectiva, vamos abordar a importância de promover a saúde mental dos professores e mostrar como reduzir os impactos do distanciamento social causado pela pandemia de coronavírus na rotina diária. Confira, ainda, dicas da dra. Luciana Mancini Bari, médica do Hospital Santa Mônica e de Alcione Marques, psicopedagoga da NeuroConecte, para a promoção da saúde mental nesse grupo e a importância de buscar ajuda quando necessário. Aproveite a leitura!

A importância da promoção da saúde mental de professores

Uma recente pesquisa sobre o impacto do sofrimento mental dos professores que atuam no ensino público no Paraná destacou a relevância do cuidado com a saúde emocional desses profissionais. O resultado da amostra com 1021 professores revelou os seguintes dados:

  • ansiedade em 70%;
  • distúrbios psíquicos em 75%;
  • depressão em 44% dos entrevistados.

Esses índices demonstram a necessidade urgente de buscar formas de reduzir os efeitos da quarentena na rotina diária desses profissionais. A substituição da modalidade de aulas presenciais pela online elevou a carga de trabalho, aumentou a ansiedade e o estresse e gerou todo tipo de desgastes nesse grupo.

Na verdade, ninguém estava preparado para as mudanças impostas pela pandemia e, para os profissionais da educação, isso teve um peso ainda maior. Fatores como cobranças administrativas e a falta de preparação para essas transformações geraram graves problemas à saúde física e mental dos educadores.

Mediante a urgente necessidade de se reinventar, muitos professores tiveram a saúde emocional abalada pelos desafios impostos por esse cenário. Muitas são as demandas que exigem a rápida adaptação deles a essas situações. Além disso, o ritmo do trabalho virtual pode ser muito mais intenso do que nas aulas convencionais.

Logo, a adaptação forçada ao “novo normal”, a extensa rotina online, o medo da contaminação pela doença, o medo de muitos de perderem seus empregos e a necessidade de manter o isolamento resultaram em grandes impactos psicológicos nesses profissionais. Por isso, a atenção à promoção da saúde mental dos educadores não pode ser negligenciada.

Saúde mental dos professores na quarentena

Promover a saúde mental do professor se tornou ainda mais necessário para superar os desafios impostos pelas aulas digitais. Um estudo publicado pelo Scielo alertou sobre a importância de prevenir o adoecimento mental nesse grupo, dada a complexidade que envolve o trabalho docente nesse contexto de pandemia.

saúde mental desses profissionais durante a quarentena é um tema de extrema relevância, já que muitos estão ficando exaustos, já que o novo contexto exige que se aprenda novas habilidades em um curto espaço de tempo, o que por si só é cansativo.

Além disso, o trabalho em casa, muitas vezes tendo de conciliar com as rotinas domésticas e necessidades da família geram uma grande sobrecarga. Na maioria das vezes, não há um suporte adequado por parte da direção da escola. Por essa razão, muitos docentes se sentem impotentes diante dos desafios que não conseguem enfrentar sozinhos.

Alguns profissionais — como pedagogos e psicólogos — que poderiam apoiar os docentes nesse momento nem sempre estão presentes. Por conseguinte, os professores estão cada vez mais expostos aos altos níveis de estresse decorrentes do cenário atual da educação que podem levar a transtornos mentais.

Entre os maiores fatores que afetam a saúde mental dos professores, destacam-se:

  • desvalorização social do trabalho;
  • classes virtuais muito numerosas;
  • falta de preparo para lidar com as tecnologias de ensino à distância;
  • falta de técnicas pedagógicas para o ensino on-line;
  • falta de apoio da gestão escolar;
  • relações interpessoais insatisfatórias;
  • turmas desinteressadas pelo aprendizado;
  • desânimo e desmotivação para o trabalho;
  • inexistência de tempo para um adequado descanso;
  • cobranças e exigências de qualificação do desempenho.

Dicas para promover a saúde mental do professor

Um ensaio sobre Liderança Educacional, publicado pela Universidade de Harvard (EUA), abordou a importância de proteger a saúde mental dos professores. Segundo os pesquisadores, os docentes percebem a necessidade de promover o bem-estar de seus alunos, mas nem sempre se dão conta da relevância de cuidar da própria saúde mental.

Tendo isso em vista, elencamos algumas práticas para melhorar a condição emocional do professor. Confira!

  1. Organize sua rotina

    Engana-se, quem pensa que dar aula em casa é uma tarefa fácil. Além da necessidade de mais tempo para pesquisar, planejar e elaborar as videoaulas ou podcasts, ainda há o risco de imprevistos que podem surgir durante o dia. Portanto, organizar melhor a rotina e estabelecer um cronograma com as atividades diárias é crucial.

2. Pratique atividade física

Além de fortalecer o organismo contra diversos tipos de doenças, inclusive a Covid-19, os exercícios físicos ajudam a relaxar a mente e promover o bem-estar emocional. Tais práticas se tornam imprescindíveis à diminuição do estresse e ao controle dos pensamentos negativos que comprometem a saúde mental do professor.

3. Desconecte-se

Entre as formas de preservar o auto-cuidado, o controle do uso de dispositivos eletrônicos é um dos mais relevantes. Como o cenário atual trouxe a necessidade do uso constante da tecnologia para o trabalho, os professores precisam buscar um ponto de equilíbrio em suas tarefas diárias.

O ideal é alternar a elaboração das videoaulas com atividades relaxantes, como ioga, caminhada e práticas de instrumentos musicais. Adotar essas medidas ajuda a relaxar o cérebro, além de movimentar o corpo para evitar os danos decorrentes da postura durante o trabalho online.

4. Melhore as relações com os colegas

É fundamental que o corpo docente cumpra as metas estabelecidas pela escola, mas o papel do diretor e dos demais auxiliares é fundamental na organização da demanda.

Melhorar as relações com os colegas e manter uma comunicação eficaz pode diminuir a pressão e as cobranças resultantes da sobrecarga de trabalho.

5. A importância de buscar ajuda

Diante de tudo isso que apresentamos, é preciso buscar maneiras mais adequadas para lidar com a questão emocional dos educadores em tempos de pandemia. Por isso, para garantir uma saúde mental dos professores mais equilibrada, a ajuda profissional é indispensável.

Nessas circunstâncias, somente uma equipe de especialistas está apta a auxiliar os docentes na superação dos riscos associados à rotina escolar.

Um suporte adequado é essencial para o enfrentamento das questões resultantes dessa rápida transformação do contexto educacional.

Como vimos, diversas questões podem prejudicar a saúde mental do professor e comprometer a qualidade do ensino. Logo, a ajuda de uma instituição especializada em saúde mental não pode ser negligenciadas.

FONTE: https://www.vidaeacao.com.br/saude-mental-dos-professores/

Saiba como lidar com a ansiedade em meio à pandemia

Saiba como lidar com a ansiedade em meio à pandemia

Especialistas explicam como a doença pode se manifestar e como se cuidar

Por ANA PAULA BIMBATI, Nova Escola

Ilustração: Rodrigo Damati/NOVA ESCOLA

O cenário de pandemia do novo coronavírus tem gerado muita preocupação e os educadores não estão de fora disso. Aulas suspensas, milhares de notícias disponíveis e rotinas sendo adaptadas. Essas são algumas das coisas que têm tomado a mente dos professores nas últimas semanas. “A incerteza gera ansiedade e estamos em um contexto muito propício para o desenvolvimento deste estado emocional”, explica Alcione Marques, psicopedagoga, mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretora da Neuroconecte.

Para ajudar nesse momento, conversamos com Alcione e também com Gustavo Estanislau, psiquiatra da infância e da adolescência, integrante do grupo Cuca Legal da Unifesp. A seguir, você confere explicações e sugestões para lidar com as preocupações e o medo:

1. Ansiedade está relacionada a risco e perigos não claros

Especialistas explicam que a ansiedade é um mecanismo de defesa natural do ser humano quando está em perigo ou sente medo. “Ela nos prepara para lidar com as situações, mas passa a ser um problema quando a gente não cuida do nosso cérebro e os pensamentos que geram incertezas com o futuro se multiplicam. A partir daí, a ansiedade pode ser ampliada e bastante negativa para saúde”, analisa a psicopedagoga Alcione. Segundo Gustavo, alguns dos sintomas são alterações no humor, irritabilidade, problemas para dormir e dificuldade para se alimentar também.

2. Informação em excesso prejudica 

Nos jornais, nas redes sociais, nos grupos de WhatsApp… as informações sobre o novo coronavírus estão circulando por todo lugar. “A informação é importante, mas o excesso pode gerar ansiedade”, diz Gustavo. Por isso, a dica é escolher apenas um momento do dia para se informar. No restante do tempo, use a internet de maneira positiva, fazendo cursos, lendo aquele livro que estava de lado ou aprendendo algo novo, por exemplo. Atividade física pode ser uma alternativa para não consumir notícias o dia inteiro, principalmente porque ao se exercitar o corpo libera endorfina (hormônio do bem-estar).

3. Seus alunos também estão preocupados, busque o diálogo com eles

A ansiedade não atinge apenas os professores. Muitos jovens, adolescentes e crianças também são prejudicados. Como figura de referência, os educadores podem ajudar a turma. Uma das maneiras é estimular o aluno a expressar o que está sentindo. “Incentivar a produção criativa, desenhos e pinturas, por exemplo”, indica o psiquiatra Gustavo. Para a psicopedagoga Alcione, o período pode ser uma oportunidade para o professor fortalecer sua relação com os estudantes em um contexto menos formal. É possível marcar um horário para bater um papo e discutir como estão se sentindo.

4. Tente manter uma rotina 

Manter o horário das atividades ajuda a controlar a ansiedade. Dormir em excesso, por outro lado, pode estar relacionado a um padrão de desânimo e causar falta de energia, segundo Gustavo. Por isso, a sugestão é colocar o corpo em movimento. Além disso, é importante variar a rotina durante o dia. Não fique o dia inteiro assistindo a séries ou filmes. Inclua atividades de interação com a família, mesmo que remotamente.

5. Meditação pode colaborar para manter o equilíbrio 

As práticas contemplativas colaboram para a diminuição da ansiedade. Ao meditar, o corpo diminui o cortisol (hormônio ligado ao estresse) e sua redução gera a sensação de bem-estar. “Acontece a neutralização das substâncias que estão ligadas ao estresse e à ansiedade”, explica Alcione. Além disso, a prática ajuda a regular o sono.

Há diversas opções gratuitas na internet. Neste box sobre bem-estar, você pode ouvir uma meditação guiada pela psicóloga, pedagoga e mestre em Psicologia da Educação Ana Carolina C. D’Agostini. Ouça aqui.

6. Enxergue as oportunidades 

Gustavo explica ser comum em situações de caos interpretar o isolamento como uma punição ou desmerecimento. “É importante que a gente sempre olhe as oportunidades apresentadas nesse cenário. Temos um tempo para valorizar e passar com a nossa família, por exemplo. Lembrar que esse processo é para um cuidado coletivo também ajuda”, sugere o especialista.

Dentro disso, Alcione afirma que é necessário gerenciar os pensamentos e se concentrar ao que é chamado de experiência primária. “A experiência primária é o fato: temos a pandemia de um vírus que causou estrago em vários países. A secundária é fazer projeções e julgamentos e imaginar coisas que não estão ligadas à realidade.” Essa parte é melhor ser evitada.

Além de todas as dicas, os especialistas recomendam que não deixem de lado os conselhos básicos de saúde, como alimentação nutritiva e sono regular.

Artigo publicado originalmente no site NOVA ESCOLA