Especialistas explicam como a doença pode se manifestar e como se cuidar

Por ANA PAULA BIMBATI, Nova Escola

Ilustração: Rodrigo Damati/NOVA ESCOLA

O cenário de pandemia do novo coronavírus tem gerado muita preocupação e os educadores não estão de fora disso. Aulas suspensas, milhares de notícias disponíveis e rotinas sendo adaptadas. Essas são algumas das coisas que têm tomado a mente dos professores nas últimas semanas. “A incerteza gera ansiedade e estamos em um contexto muito propício para o desenvolvimento deste estado emocional”, explica Alcione Marques, psicopedagoga, mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretora da Neuroconecte.

Para ajudar nesse momento, conversamos com Alcione e também com Gustavo Estanislau, psiquiatra da infância e da adolescência, integrante do grupo Cuca Legal da Unifesp. A seguir, você confere explicações e sugestões para lidar com as preocupações e o medo:

1. Ansiedade está relacionada a risco e perigos não claros

Especialistas explicam que a ansiedade é um mecanismo de defesa natural do ser humano quando está em perigo ou sente medo. “Ela nos prepara para lidar com as situações, mas passa a ser um problema quando a gente não cuida do nosso cérebro e os pensamentos que geram incertezas com o futuro se multiplicam. A partir daí, a ansiedade pode ser ampliada e bastante negativa para saúde”, analisa a psicopedagoga Alcione. Segundo Gustavo, alguns dos sintomas são alterações no humor, irritabilidade, problemas para dormir e dificuldade para se alimentar também.

2. Informação em excesso prejudica 

Nos jornais, nas redes sociais, nos grupos de WhatsApp… as informações sobre o novo coronavírus estão circulando por todo lugar. “A informação é importante, mas o excesso pode gerar ansiedade”, diz Gustavo. Por isso, a dica é escolher apenas um momento do dia para se informar. No restante do tempo, use a internet de maneira positiva, fazendo cursos, lendo aquele livro que estava de lado ou aprendendo algo novo, por exemplo. Atividade física pode ser uma alternativa para não consumir notícias o dia inteiro, principalmente porque ao se exercitar o corpo libera endorfina (hormônio do bem-estar).

3. Seus alunos também estão preocupados, busque o diálogo com eles

A ansiedade não atinge apenas os professores. Muitos jovens, adolescentes e crianças também são prejudicados. Como figura de referência, os educadores podem ajudar a turma. Uma das maneiras é estimular o aluno a expressar o que está sentindo. “Incentivar a produção criativa, desenhos e pinturas, por exemplo”, indica o psiquiatra Gustavo. Para a psicopedagoga Alcione, o período pode ser uma oportunidade para o professor fortalecer sua relação com os estudantes em um contexto menos formal. É possível marcar um horário para bater um papo e discutir como estão se sentindo.

4. Tente manter uma rotina 

Manter o horário das atividades ajuda a controlar a ansiedade. Dormir em excesso, por outro lado, pode estar relacionado a um padrão de desânimo e causar falta de energia, segundo Gustavo. Por isso, a sugestão é colocar o corpo em movimento. Além disso, é importante variar a rotina durante o dia. Não fique o dia inteiro assistindo a séries ou filmes. Inclua atividades de interação com a família, mesmo que remotamente.

5. Meditação pode colaborar para manter o equilíbrio 

As práticas contemplativas colaboram para a diminuição da ansiedade. Ao meditar, o corpo diminui o cortisol (hormônio ligado ao estresse) e sua redução gera a sensação de bem-estar. “Acontece a neutralização das substâncias que estão ligadas ao estresse e à ansiedade”, explica Alcione. Além disso, a prática ajuda a regular o sono.

Há diversas opções gratuitas na internet. Neste box sobre bem-estar, você pode ouvir uma meditação guiada pela psicóloga, pedagoga e mestre em Psicologia da Educação Ana Carolina C. D’Agostini. Ouça aqui.

6. Enxergue as oportunidades 

Gustavo explica ser comum em situações de caos interpretar o isolamento como uma punição ou desmerecimento. “É importante que a gente sempre olhe as oportunidades apresentadas nesse cenário. Temos um tempo para valorizar e passar com a nossa família, por exemplo. Lembrar que esse processo é para um cuidado coletivo também ajuda”, sugere o especialista.

Dentro disso, Alcione afirma que é necessário gerenciar os pensamentos e se concentrar ao que é chamado de experiência primária. “A experiência primária é o fato: temos a pandemia de um vírus que causou estrago em vários países. A secundária é fazer projeções e julgamentos e imaginar coisas que não estão ligadas à realidade.” Essa parte é melhor ser evitada.

Além de todas as dicas, os especialistas recomendam que não deixem de lado os conselhos básicos de saúde, como alimentação nutritiva e sono regular.

Artigo publicado originalmente no site NOVA ESCOLA