por Adriana Fóz

 

A adolescência é um período da vida que procede a infância e precede a fase adulta. Não é uma questão de escolha, mas um período inevitável da vida. É um período necessário para que o cérebro infantil se transforme em um cérebro adulto.

Atualmente temos mais um motivo para aprender sobre estas transformações, uma vez que pesquisas neurocientíficas demonstram que o cérebro de uma criança continua a se desenvolver e modificar. Ou seja, quando termina a infância ainda existirão grandes reorganizações e modificações durante o desenvolvimento neurocognitivo de um jovem. E mais, que uma infância sadia pode promover uma adolescência sadia, mas que para tanto pais e educadores têm que “estudar”.

Adolescência também não é sinônimo de puberdade. Esta última se refere às transformações do corpo para a reprodução, onde os hormônios são personagens principais.

Já a adolescência se refere às transformações no cérebro, ou melhor, nas competências cognitivas, sociais, emocionais, onde os neurônios, axônios, neurotransmissores e sinapses são personagens principais.

Resumindo, a puberdade tem mais a ver com as mudanças no corpo e a adolescência tem mais a ver com as mudanças no cérebro.

No palco da adolescência um importante diretor é o hipotálamo. E tudo começa aí…

 O hipotálamo, que em grego quer dizer “abaixo do tálamo”, é uma estrutura que se localiza justamente abaixo do tálamo, na região do diencéfalo. Possui vias de ligação com o Sistema Límbico, Sistema Nervoso e Sistema Endócrino, dirigindo e controlando a maioria das funções vegetativas, endócrinas, comportamentais e emocionais do corpo. É composto basicamente por substância cinzenta, ou seja, neurônios e axônios ainda sem mielina. O hipotálamo está intimamente relacionado com a hipófise no comando das atividades. Tem uma função reguladora importantíssima para o processo de desenvolvimento cerebral, que tende ao equilíbrio. E como curiosidade, representa apenas cerca de 1% da massa total do encéfalo, ou seja, é um órgão muito pequeno, mas de relevância indiscutível – de fato tamanho não é documento. Aliás o volume da substância cinzenta cerebral segue aumentando até o início da adolescência, para então ser reduzido nas regiões corticais. Isto porque a adolescência é um período de podas ou ainda, uma fase de “lapidação”.

O cérebro adulto chega a ser três vezes maior que o do recém-nascido. Mas o cérebro de um adolescente já atingiu seu volume máximo que terá na vida, até o envelhecimento ou a doença o alterarem.

O cérebro de um bebê tem o dobro de sinapses do que num adulto. Logo quando falamos de diferenças entre bebê e adulto estamos falando de um processo de lapidação e não mais de pedra bruta, se fizermos a metáfora de pedra para cérebro.

Já a principal diferença entre crianças e adolescentes não está no número de neurônios, mas que este último sofre uma reorganização química e física, modifica-se a quantidade de neurotransmissores que levam mensagens de um neurônio para outro. Ou seja, o cérebro adolescente passa por uma enorme reestruturação afetando a capacidade da troca de sinais entre suas células nervosas.

A substância cinzenta, aquela que diminui radicalmente na adolescência, representa os corpos celulares dos neurônios enquanto a substância branca, que por sua vez aumenta na fase adolescente, reúne os axônios e a glia. Aliás, chama-se “branca” por possuir uma camada de gordura, a mielina, que facilita a velocidade da comunicação entre os sinais nervosos. A mielina é uma espécie de “encapamento dos fios”, que seriam as sinapses.

Logo, ser adolescente é passar por mudanças significativas na quantidade de corpos celulares dos neurônios, na comunicação entre estes, na forma de proteção dos neurônios e axônios e na velocidade da comunicação entre eles.

Não é pouca coisa! É “osso”, como eles mesmos dizem.

E qual é a relação entre cérebro e comportamento?

“Podemos inferir que o relacionamento entre a estrutura e função cerebral pela comparação entre os períodos de desenvolvimento da anatomia e fisiologia do cérebro com o período do desenvolvimento comportamental”, segundo Kolb e Whishaw. Entender o cérebro teen é entender seu comportamento e vice-versa.

As mudanças ocorrem principalmente em algumas regiões, dentre estas: os núcleos da base, córtex parietal, núcleo acumbente, córtex pré-frontal e amígdala. Falo aqui da amídala cerebral e não da palatina, certo?

Nos núcleos da base há uma redução já no final da infância, onde armazenam-se programas motores complexos. Por isso a importância de estimular e ensinar uma diversidade de esportes e atividades físicas nesta fase, por exemplo.

A região do córtex parietal, que planejam e integram os sinais dos sentidos motores, registram mudanças no mapa cortical da representação dos movimentos e da imagem do corpo e tem uma modificação significativa nesta fase. Como o corpo está crescendo e a imagem mental precisa acompanhar, os adolescentes buscam formas de se adequar e se reconhecer. Daí a necessidade dos jovens experimentarem outros visuais, cores de batons e esmaltes, estilos de cabelo, etc.. A calça nos quadris, o piercing, ou seja, os novos “looks “são tentativas do cérebro para encontrar uma nova organização e identidade que foi modificada. Além é claro, de se organizarem como uma nova “entidade” que não apenas de filhinho do pai ou da mãe.

O núcleo acumbente, que faz parte do Sistema de recompensa – um conjunto de estruturas que registra o prazer, nesta fase etária sofre embotamento. Na fase adolescente, por lá, terá menos dopamina circulante – lembrando que este neurotransmissor ativa a sensação de prazer próprios do Sistema de recompensa. Por isso o adolescente precisa de novos jogos, nova decoração do quarto, novas e diferentes roupas, novas músicas, novo visual, novo interesse, como por exemplo, política.

As necessidades desta área responsável pela sensação de recompensa juntamente com as transformações que vão ocorrendo na região Pré-frontal, o levam a se interessar por filosofia, sociologia, política, artes, dentre outros, além de necessidade de engajamentos mobilizadores e mais “radicais”.

A parceria entre o desenvolvimento do pré-frontal com as necessidades do núcleo acumbente levam-nos aos comportamentos de risco, ao interesse por competições, busca pelo perigo, por grandes desafios e prazeres consumíveis. Aliás, esta parceria ainda em alinhamento com a necessidade do crescimento rápido do corpo, leva aos ataques à geladeira. A comida, o orgasmo, o sexo, a masturbação e as drogas têm o seguinte papel: quanto mais dopamina mais ativação do acumbente, logo mais prazer. Lembrando que o núcleo acumbente sofre embotamento, pois perde quase 1/3 dos receptores para dopamina, fica mais fácil entender o porque do tédio “aborrecente”. Suzana Herculana-Houzel batiza esta situação de “síndrome da abstinência da infância”. Menos dopamina na região do prazer, mais “deprê”.

O cérebro é muito sábio e tende a regulação e à solução de problemas ou desafios. Entra, então, o papel mais do que principal da região pré-frontal: controle dos impulsos, tomadas de decisão, cálculos de consequências, teoria da mente, empatia, maior domínio da linguagem e respostas motoras mais acuradas.

O controle cognitivo e a capacidade para o planejamento de uma certa área do pré-frontal interligados aos núcleos da base possibilitarão o controle mais apurado dos movimentos, das habilidades motoras refinadas e da monitorização de erros. Também o pré-frontal é responsável pelo embate e discussões que passam a acontecer entre os pais e os filhos. São mais capazes na habilidade linguística, aprendendo com facilidade figuras de linguagem e estratégias argumentativas. Neste sentido, municiá-los de informações competentes é um bom palco educativo. São mais aptos a ampliarem sua memória de trabalho, a exercitar a flexibilidade do pensamento e de trabalhar seu raciocínio abstrato. Mais um motivo para os pais e educadores exercitarem a conversa e troca de informações relevantes.  Um lembrete: nesta época, os neurônios espelho, aqueles que copiam comportamentos e ações, estão no seu auge. Eles vão buscar a imitação e vamos torcer e criar oportunidades para que copiem o bom e o bem.

A parte frontal do cérebro também regula o comportamento motivador – por seu papel associativo – o controle de impulsos, a flexibilidade, o planejamento das ações e ideias. Desta forma libera-se do concreto, do presente, para pensar no futuro e nas várias possibilidades que uma ação pode desencadear. Mas é importante relembrar que esta área ainda está em desenvolvimento, inclusive só terminará perto dos 30 anos! Daí a grande importância dos pais e educadores poder ajudá-los a avaliar as consequências, as ações alternativas e a relação entre passado e futuro. Eu costumo brincar que nós adultos temos que “emprestar nosso pré frontal” aos jovens, como instrumentos de uma orquestra podem estar sob a tutoria de um diapasão.

O Córtex pré-frontal se relaciona interligado à amígdala (emoções fortes) e hipocampo (memória), sendo assim podemos entender a relevância do autoconhecimento e autoestima ao longo do amadurecimento deste ser, que passará de um bebê sensório motor à um adulto autônomo e ainda mais lapidado. Investir em uma infância trabalhada entre limites e possibilidades, estimulada, afetiva e diversificada em exercícios de competência é um legado essencial. A adolescência não acontece por mágica, não é uma fase desconectada ou simplesmente uma espécie de entidade, mas um período que depende do desenvolvimento da infância e que ao mesmo tempo tem suas próprias regras, funcionamentos e objetivos.

Como é evidente a partir do estudo do cérebro dos adolescentes, eles são aptos a serem independentes em algumas funções. Porém, como ainda estão exercitando, muitas outras precisam da orientação, do modelo, do incentivo, do estímulo, da compreensão e do desafio.

Para professores Tutores, pais, educadores, psicólogos, e áreas afins também é um grande desafio, principalmente quando “estudar” não é coisa apenas de adolescente…

Bibliografia do artigo:

  • Kolb,B. E Whishaw,I. Neurociência do Comportamento.Barueri: Manole,2002
  • Lent,R. Cem bilhoes de neuronios.São Paulo: Editora Atheneu,2005.
  • Pantano,T, Zorzi,J.Neurociência aplicada à aprendizagem.São José dos Campos: Pulso,2009.
  • Herculano-Houzel,S. O cérebro em transformação.Rio de Janeiro:Objetiva, 2005.
  • Goldberg,E. O novo cérebro executiva. Editora Saraiva, 2010
  • Bruer J.T. The myth of the first three years.Nova York: Free Press, 2003

 

Filmes para adolescentes. Para assistir na TV ou tablet com os filhos(as) ou alunos(as):

  • Cidade de papel
  • Boa Sorte
  • Uma Vida com Propósito
  • Sobre Viagens e Amor
  • Quase 18
  • Manchester by the sea
  • Eu fico loko