O pouco interesse dos jovens pela área é um alerta para mudanças urgentes que precisam acontecer na formação e na carreira do professor

Por Keila Camponucci Fernandes, colaboradora de conteúdo da NeuroConecte

 

Iniciamos este breve diálogo colocando-nos na desconfortável cadeira na qual muitos alunos sentam-se antes de definir e iniciar um curso de licenciatura em Pedagogia.

Imagine-se em uma grande roda de amigos, conhecidos e familiares. Suponha que revelará seu grande desejo em atuar como professor na Educação Básica no Brasil. Animador??

É interessante que você saiba que nos últimos 10 anos, “seu interesse” corresponde a apenas 2% dos jovens brasileiros que ingressam no Ensino Superior, segundo pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas. Essa pesquisa foi realizada sob encomenda da Fundação Victor Civita, o estudo A Atratividade da Carreira Docente no Brasil foi concluído em dezembro de 2009 e revelou que, dos 1.501 alunos do Ensino Médio entrevistados em todas as regiões brasileiras, apenas 2% manifestavam o interesse de cursar Pedagogia ou alguma licenciatura— caminhos para a carreira de professor. Destes, praticamente oito em cada 10 são mulheres.

Voltando ao grupo de amigos, muito provavelmente, haverá comentários ferrenhos indicando o cenário atual, repleto de condições precárias com as quais os professores se deparam cotidianamente: salários pouco atraentes, precarização institucional, pouco reconhecimento, baixo prestígio social, entre outros que distanciam e desqualificam esta nobre profissão.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), o Censo Escolar 2017 contabilizou 2.192.224 docentes atuando na Educação Básica brasileira, sendo que deste total 1.909.462 atuam na zona urbana 1.753.047 e são mulheres.

Percebemos deste modo que estes dados mantêm o magistério em uma tímida posição de escolha, pouco atraente para jovens Brasileiros. Para confirmar, o site Guia da Carreira elenca as dez profissões mais concorridas pelos jovens em 2019, a saber:

  • Medicina;
  • Direito;
  • Engenharia Civil;
  • Arquitetura e Urbanismo;
  • Relações Internacionais;
  • Publicidade e Propaganda;
  • Fisioterapia;
  • Psicologia;
  • Ciência da Computação;
  • Nutrição.

Com esta informação percebemos que no Brasil o prestígio de quem ensina apreende muito pouco a atenção dos jovens para seguir seus passos profissionais.

 

Ei, teacher? Você só dá aulas ou também trabalha??

O professor em muitas situações é o herói velado que, na linha de frente, recebe, acolhe e gerencia diferentes temáticas e problemáticas trazidas por seus alunos: questões de aprendizagem, dificuldades de relacionamento interpessoal, enfim complexidades que requerem um olhar cuidadoso, acolhedor e atento ao grupo discente.

Lidar com a demanda excessiva expõe este profissional a uma exaustiva condição emocional e psicológica, sobrecarregada pelas longas jornadas de trabalho. Porém, mesmo diante de tantos desafios impostos pela profissão, observamos professores entusiasmados, comprometidos e muito vinculados ao fazer cotidiano, cientes de que possuem um material muito valioso: os estudantes.

O texto que possibilitou esta reflexão, retirado de um relatório da Unesco apresenta uma discussão acerca das concepções e práticas na formação de professores e professoras para a Educação Básica, reforçando a importância de se desenhar um currículo formativo que contemple de forma equilibrada as dimensões política, ética, humana, estética e cultural e que prepare o futuro professor para o exercício da docência em contextos favorecidos ou não, visando atender à diversidade de necessidades de todos os alunos.

Muita responsabilidade, não acham?

Os detalhes desta formação eu deixo pra contar em outra ocasião. E, aí? Animados? Vamos nos inscrever?

 

 

Referências:

Realizado pela Fundação Carlos Chagas sob encomenda da Fundação Victor Civita, o estudo A Atratividade da Carreira Docente no Brasil foi concluído em dezembro de 2009 e revelou que, dos 1.501 alunos do Ensino Médio entrevistados em todas as regiões brasileiras, apenas 2% manifestavam o interesse de cursar Pedagogia ou alguma licenciatura— caminhos para a carreira de professor. Destes, praticamente oito em cada 10 são mulheres.

 

INEP

http://portal.inep.gov.br/artigo/-/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/censos-educacionais-do-inep-revelam-mais-de-2-5-milhoes-de-professores-no-brasil/21206

 

GATTI, Bernardete Angelina Professores do Brasil: novos cenários de formação / Bernardete Angelina Gatti, Elba Siqueira de Sá Barretto, Marli Eliza Dalmazo Afonso de André e Patrícia Cristina Albieri de Almeida. – Brasília: UNESCO, 2019. 351 p. ISBN: 978-85-7652-239-3. Capítulo VI.

Profissões Concorridas

Fonte: https://www.guiadacarreira.com.br/carreira/profissoes-concorridas/