Em novo livro, Adriana Fóz traz dicas de como melhor lidar com este sentimento

por Gisele Bortoleto, Diário da Região de São José do Rio Preto – Revista Bem-Estar

 

Você quer comprar uma casa, mas não tem dinheiro suficiente? Se sente insatisfeito e pouco valorizado em seu trabalho e esperou muito por uma promoção que não veio? Que atire a primeira pedra quem já não se sentiu frustrado. A verdade é que problemas, insatisfações ou não atingir metas acontecem com qualquer um. Você não está sozinho nessa.

Não importa a situação – corriqueira ou extraordinária -, praticamente não há um dia em que não nos defrontemos com situações que podem gerar frustração. Esse sentimento é quase intrínseco à condição do ser humano, sobretudo do homem contemporâneo.

E ensinar a entender que a grande questão é como lidamos com as frustrações que aparecem na nossa vida e, o mais importante, encontrar caminhos para a superação é a proposta do novo livro da psicopedagoga e neurocientista Adriana Fóz “Frustração – Como treinar suas competências emocionais para enfrentar os desafios da vida pessoal e profissional”, lançado pela editora Benvirá.

Frustração, diz Adriana, é o sentimento que nos acomete quando não conseguimos realizar um desejo, uma vontade ou uma necessidade. É a reação a uma expectativa não correspondida. “É uma sensação, um pensamento, um estado interior que reflete a não conquista. É quando nos sentimos mal por não ter alcançado algo em que colocamos algum empenho ou que fazia parte do que entendíamos como natural”, afirma.

Tem coisas e situações que nos pegam de surpresa, desprevenidos, causando mais do que simplesmente uma decepção. Repare que a frustração tem a ver com o que esperamos das pessoas e das situações – consciente ou inconscientemente. “Mas a verdade é que somos nós quem criamos as expectativas e, quando elas não são alcançadas, ganhamos esse ‘brinde'”, explica. Como enfrentamos e nos construímos e reconstruímos a partir desse sentimento ou dos nossos problemas e desafios é o que faz a diferença.

“Um dos caminhos para lidar com a frustração é reconfigurar nossas emoções – capacidade que todos nós temos, e podemos fazer isso através do treino de nossas competências emocionais”, diz Adriana. Esse treino foi batizado por ela de plasticidade emocional. Sobre esse assunto, Adriana Fóz falou com exclusividade com a revista Bem-Estar.

Revista Bem-Estar- Muitas pessoas não conseguem lidar com a frustração quando algo sai do roteiro ou são contrariadas. Por que tanta dificuldade?

Adriana Fóz- A infância é a época da gente treinar nosso autocontrole e a capacidade que a gente tem de se autorregular. As famílias e as escolas não estão dando muito espaço para as crianças errarem, se frustrarem. Os pais fazem tudo para que eles se frustrem o mínimo possível, sem saber que a frustração é o que vai fazer com que elas se tornem mais fortes e competentes para a vida. Tem caminhos que só nós podemos percorrer e a frustração é um deles. Quando a gente supera a frustração é quando nos sentimos fortes e conquistamos a autoestima que é a base de toda a competência.

Bem-Estar- E como é o adulto que não aprendeu a lidar com a frustração?

Adriana- Acaba se tornando um adulto impaciente, desfocado, que acha que tudo tem de ser feito da forma que ele quer e que o mundo está errado. Nunca acha que tem a responsabilidade e que a culpa é sempre do outro ou do mundo.

Bem-Estar- Onde vamos parar se tivermos um mundo repleto de pessoas que não sabem lidar com a frustração?

Adriana- Teremos uma sociedade adoecida das emoções que é o que já acontece. A depressão é a doença que mais acomete o mundo inteiro, o Brasil ocupa a primeira posição em número de pessoas ansiosas. Os problemas afetivos estão afetando o bem-estar, a saúde integral e física. A cada dia mais temos doenças provocadas pelas emoções.

Bem-Estar- E temos solução enquanto sociedade?

Adriana- Acho que o caminho é o da conexão do seu coração com o do outro. Acho que as pessoas não vão conseguir sozinhas. Vamos ter de procurar um pouco mais a verdade dos nossos objetivos, dos nossos sentimentos e essa nossa verdade terá de ter ressonância com a verdade do outro. Isso é conexão. Estamos conectados por fios, mas não pelos corações, não nas intenções, não nos sentimentos e é isso o que está adoecendo o ser humano, porque ele necessita do outro. Somos indivíduos, mas temos de ver que fazemos parte de um todo. Só dessa forma vamos nos curar e curar a sociedade.

Raio-X

Adriana Fóz

Pós-graduada em psicologia da educação pela Universidade de São Paulo (USP), é especialista em psicopedagogia e neuropsicologia. É diretora da NeuroConecte, pesquisadora do LINC (Laboratório de Neurociências Clínicas – Unifesp) e mestre em psicologia médica e psiquiatria pela mesma universidade. Referência nacional em educação socioemocional, reabilitação cognitiva e neurociência educacional, Adriana atende em seu consultório pacientes jovens e adultos, além de dar cursos e aulas em importantes instituições.

Dá pra prevenir

  1. Identifique uma situação com potencial frustrante;
  2. Sinta e pense, concentre-se na situação eem seus detalhes. Visualize;
  3. Racionalize e reflita em prol de ser assertivo;
  4. Crie e teste estratégias para passar pela situação com potencial frustrante;
  5. Caso a situação envolva outra pessoa, comunique-se da melhor forma possível. Deixe muito claro o que pensa ou espera. Busque, ao mesmo tempo, compreender o que a outra pessoa sente, pensa e entende sobre o mesmo assunto;
  6. Escolha, decida o caminho a seguir;
  7. Tenha um plano B, caso sua primeira escolha não atinja o resultado esperado.

Competências transformadoras

  • Perseverança
  • Empatia
  • Intuição
  • Resiliência
  • Gentileza/autocuidado
  • Generosidade
  • Paciência
  • Otimismo
  • Criatividade
  • Foco
  • Coragem
  • Perdão
  • Gratidão

 

P.S. Matéria publicada originalmente no site

https://www.diariodaregiao.com.br/_conteudo/2019/08/vida_e_estilo/comportamento/1162214-frustrado-eu.html