Existem inúmeros artigos de acadêmicos nacionais e internacionais sobre o impacto que a tecnologia móvel pode ter nos indivíduos, desde os bebês aos adolescentes e seus pais.
Segundo um desses estudiosos no assunto, Dr. Zheng Yan, hoje existem quase três bilhões de crianças e adolescentes no mundo. “A maioria deles é ou será usuário de tecnologia móvel, interagindo e sendo influenciados pela tecnologia móvel de várias maneiras”.
Como efeito, os estudos indicam:
- Riscos do uso de telefones celulares enquanto você dirige, caminha ou anda de bicicleta (Stavrinos);
- Riscos de radiação no uso de telefones celulares para o desenvolvimento do cérebro (Hardell; Sage);
- Efeitos da tecnologia móvel no controle cognitivo, atenção e desenvolvimento inicial do cérebro (McDaniel; Li; McClure);
- Riscos de sexting (divulgação de conteúdos eróticos e sensuais através de celulares) / aumento do comportamento de risco por meio da pressão dos colegas e interação com a mídia social (Rice; Sherman);
- Efeitos do uso da tecnologia móvel no sono, humor e na saúde mental (Vernon; George / Odgers);
- Maior potencial para monitorar localizações / atitudes das crianças quanto à segurança e monitoramento por meio de rastreamento por GPS (Gelman);
- Maior conectividade entre espaços e culturas (Shapka; Coyne).
Os artigos apontam para uma série de resultados, incluindo áreas em que a tecnologia móvel pode representar perigos em potencial e áreas em que o desenvolvimento pode ser benéfico. Um exemplo importante é o trabalho realizado pelo Dr. Lennart Hardell sobre radiação e desenvolvimento cerebral. Em termos de possíveis benefícios para o desenvolvimento, a tecnologia móvel oferece novas e únicas maneiras para as crianças manterem contato com os membros da família que não estejam fisicamente presentes.
As tecnologias móveis de hoje se tornaram uma influência única e poderosa no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Seu uso é muito pessoal, ocorre quase em qualquer lugar e a qualquer momento e integra telefone, televisão, videogame, computadores pessoais, Internet e muitas novas tecnologias em um dispositivo portátil. As evidências indicam impactos complexos desta tecnologia móvel recente.
Cada vez mais podemos observar o aumento da portabilidade e do acesso ao uso da tecnologia – não apenas para profissionais de negócios ou por adultos de modo geral, mas por crianças e adolescentes.
Embora a Academia Americana de Pediatria tenha publicado um estudo em que se registra que o tempo das crianças em frente à TV ainda seja o principal, com média de quatro horas por dia, quase um terço desse tempo é gasto em um computador, tablet ou celular.
Outro fato relevante e digno de nota é que o celular e o tablet podem não ser emprestados dos pais, considerando o aumento do número de crianças na faixa etária entre de 12 a 17 anos que passaram a ter seus próprios aparelhos na última década, disparando de 45% dos adolescentes com seus próprios celulares em 2004 para 75% atualmente. Além de assistir à programação da televisão, pré-adolescentes e adolescentes enviam mensagens de texto e acessam as mídias sociais com mais frequência.
A questão não é se as crianças estão cada vez mais expostas à tecnologia, mas o que essa exposição tecnológica significa para o desenvolvimento infantil.
Como já discutimos aqui no NeuroBlog, algumas escolas estão oferecendo smartphones para atividades em sala de aula, a fim de atrair o público jovem e tornar as aulas mais participativas, além de dar a oportunidade de os jovens realizarem pesquisas que aumentem seus conhecimentos sobre uma determinada matéria dada em sala de aula. Outras escolas, no entanto, defendem um ambiente totalmente livre de tecnologia.
Mas afinal, quais seriam os efeitos da tecnologia no desenvolvimento infantil?
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Prejudica a atenção
A preocupação levantada com mais frequência quando se trata de crianças e tecnologia é a relação do tempo diário dispendido com estes equipamentos e o impacto na atenção. A pesquisa apoia essa preocupação. Jim Taylor, Ph.D., escreveu no Psychology Today que o aumento da exposição tecnológica pode realmente estar mudando a maneira como as conexões no cérebro das crianças estão se formando.
Por quê? Porque, diferentemente do cérebro de um adulto, o cérebro de uma criança ainda está em um intenso processo de desenvolvimento. Quando as crianças são expostas à tecnologia de maneira excessiva, seu cérebro pode adotar uma abordagem da Internet para pensar – rapidamente escaneando e processando várias fontes de informação. O desenvolvimento do cérebro é particularmente vulnerável a isso, e onde as gerações anteriores podem ter passado muito mais tempo lendo, imaginando ou participando de atividades que requerem atenção concentrada, os cérebros de crianças expostas a altos volumes de tecnologia podem se adaptar a estímulos visuais frequentes, mudanças rápidas e pouco necessidade de imaginação.
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Calmante
Qualquer pessoa que tenha criado uma criança reconhece a beleza o valor de ações para acalmá-la durante uma birra. Mas os pais hoje têm uma distração tentadora sempre disponível: a tecnologia. E embora a entrega imediata de um telefone celular ou tablet possa acalmar uma criança em idade pré-escolar, a Academia Americana de Pediatria afirma que a distração dos dispositivos móveis pode afetar negativamente a oportunidade das crianças de aprender a se acalmarem por si só e auto regular-se nesses momentos.
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Aumenta a agressão
Vários estudos, incluindo um do Instituto de Pesquisa Infantil de Seattle e o Journal of Youth and Adolescence, encontraram uma correlação entre a violência simulada, frequentemente encontrada em videogames populares, e o aumento da agressão. Verificou-se que a exposição à violência torna as crianças e os adolescentes mais propensos a discutir com colegas ou professores e menos empáticos e impactados pela violência real.
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Estagna a atividade física
Tempo gasto com tecnologia significa tempo sentado. Mesmo com dispositivos portáteis, a atividade em si exige que os usuários fiquem praticamente imóveis. Dada a grande quantidade de tempo que as crianças gastam com tecnologia agora, isso também significa que o tempo de recreação ativo em ambientes fechados ou ao ar livre foi amplamente substituído por essa atividade sedentária. Em casos extremos, crianças ou adolescentes podem até renunciar a outras atividades vitais, como comer e dormir, quando envolvidas com um videogame ou outra mídia.
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Prejudica o desempenho escolar
A atenção limitada também pode afetar o desempenho das crianças na sala de aula. Para alguns professores, os alunos não têm atenção suficiente para ler as tarefas por conta própria, devido a celulares e mídias sociais. Afirmam que um indivíduo não pode se tornar um bom escritor assistindo ao YouTube, enviando mensagens de texto e e-mail com várias abreviações.
O artigo também afirmou que a tecnologia habitua o cérebro a alternar constantemente entre as tarefas, o que pode levar a uma redução no tempo de atenção. Michael Rich, diretor executivo do Centro de Mídia e Saúde Infantil em Boston, diz que o cérebro infantil é recompensado por passar para a próxima tarefa em vez de permanecer na tarefa, o que levou a “uma geração de crianças na frente de telas cujos cérebros serão conectados de maneira diferente. ” Curiosamente, alguns adolescentes admitem que preferem a gratificação imediata oferecida por um vídeo rápido em detrimento de assistir a um filme de romance, por exemplo.
Outras pesquisas sugerem que a presença de um computador, mesmo se destinado a fins educacionais, pode simplesmente servir como uma distração. De fato, Jacob L. Vigdor, professor de economia da Duke University e pesquisador, descobriu que, quando deixadas sozinhas, as crianças costumavam usar computadores domésticos para entretenimento, em vez de aprender. A supervisão de adultos é crítica.
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Limita interações interpessoais
Apoiar-se em um dispositivo móvel para distrair as crianças pode reduzir suas interações interpessoais. Se a necessidade em questão é reconciliar-se com um amigo ou irmão, divertir-se em uma longa viagem ou se acomodar à noite, as crianças constantemente armadas com tecnologia têm pouca interação com um amigo, pai ou irmão que pode ser crítica para resolver um problema. Para crianças e adolescentes mais velhos, a tecnologia pode servir como um desvio de questões preocupantes: lidar com a adaptação à escola ou com os pais brigando em casa, entre outras situações. Mas, em vez de aprender a resolver esses problemas, crianças e adolescentes podem achar que a tecnologia pode dar a ilusão de abrigo – sem permitir que desenvolvam adequadamente as habilidades interpessoais necessárias para navegar em situações desconfortáveis na vida adulta.
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Afeta o desenvolvimento emocional
Mesmo nas mãos dos pais e cuidadores, a tecnologia pode ter um impacto no desenvolvimento infantil. A observação é a principal maneira pela qual as crianças aprendem, enquanto ouvem aprendem a língua, acompanham conversas, leem expressões faciais e observam como os outros navegam em situações emocionais. O tempo excessivo dos adultos com smartphones ou tablets escoa o tempo conectado com as crianças, que é fundamental para seu desenvolvimento emocional. Para crianças e adolescentes mais velhos, uma forte dependência da tecnologia para se comunicar prejudica as habilidades relacionais e pode até desenvolver um sentimento de desapego dos sentimentos dos outros.
Para crianças pequenas, o impacto pode ser sentido à medida que o tempo na tela substitui o tempo anteriormente dedicado à brincadeira, à interação com colegas que estimula a empatia, a capacidade de resolver problemas, a curiosidade, a inteligência e as habilidades de escuta. Pesquisadores da Universidade de Boston também afirmam que o uso do telefone celular pode impedir que as crianças desenvolvam empatia, habilidades sociais e de resolução de problemas.
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Auxilia a coordenação Viso espacial
Foi provado que os videogames ajudam a desenvolver habilidades visuais periféricas, de acordo com o Science Daily. Em termos mais gerais, as habilidades motoras visuais gerais (rastrear objetos ou procurar algo visualmente) podem melhorar com o uso da tecnologia.
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Ajuda a multitarefa
Quando aplicada de maneira apropriada (em oposição a dirigir e enviar mensagens de texto, por exemplo), a capacidade de realizar várias tarefas que são provocadas pelo uso da tecnologia fornece às crianças as habilidades necessárias para a vida adulta moderna, de acordo com o Psych Central.
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Ajuda à Aprendizagem
Os usuários da Internet flexibilizam suas funções cerebrais de tomada de decisão e resolução de problemas com mais frequência e têm maior probabilidade de lidar bem com pesquisas cibernéticas rápidas. E a tecnologia pode apresentar a próxima onda de treinamento vocacional para estudantes que podem não prosperar em disciplinas acadêmicas tradicionais.
A aula orientada para a tecnologia não apenas inspira os alunos a aparecer, como também fornece aprendizado ocupacional e apresenta uma oportunidade para despertar interesse em outras disciplinas. A tecnologia também pode apoiar a educação de maneiras mais tradicionais, com jogos envolventes para aprimorar vocabulário ou através de livros eletrônicos.
Como em quase tudo na vida, a tecnologia não é um problema quando usada com moderação. No entanto, os números sugerem que a maioria ainda não atingiu um equilíbrio saudável e consistente, pois o número de horas de uso relatadas estão muito acima do que a Academia Americana de Pediatras recomenda para a mídia eletrônica. Considerando que a AAP não recomenda exposição antes dos 2 anos de idade e de 2 a 6 anos um período limitado de 1-2 horas por dia com a mídia de entretenimento, é seguro dizer que a maioria das crianças está excedendo os limites sugeridos. Precisamos buscar um equilíbrio tecnológico para os nossos filhos, capitalizar os benefícios e aliviar os efeitos negativos da tecnologia no desenvolvimento infantil.
Referência:
https://www.sciencedaily.com/releases/2017/05/170530082037.htm
https://www.floridatechonline.com/blog/psychology/how-technology-affects-child-development/