por Adriana Fóz
Recentemente temos nos deparado cada vez mais com homens frequentando barbearias diferenciadas, lojas de produtos cosméticos, massagens faciais, cirurgias plásticas meramente estéticas e outros recursos que eram procurados com quase unanimidade, pelo público feminino. Deu a louca nos homens? Ou melhor, por que eles passaram a ser tão vaidosos? Vaidade vem do Latim vanitas e vanus, respectivamente “característica do que é vão” e “vazio, ocioso”. Seu significado no dicionário denota apreciação exagerada dos próprios méritos e qualidades físicas ou intelectuais, as quais são ostentadas em prol da admiração alheia.
Até pouco tempo atrás era um adjetivo relacionado com futilidade, arrogância, exagero descabido, mas em meio ao que assistimos nas ruas, mídias, temos que rever tais sinônimos e entender hoje o fenômeno como um dos tons da paleta masculina. Também por muito tempo na história, assim como na era renascentista, eram os homens que usavam peruca, se maquiavam e faziam usos de ornamentos que mulher nenhuma botaria defeito! As razões pelas quais eles eram ou deixaram de ser tão “fantasiados” não vem ao caso aqui, mas sim o que faz com que cada vez mais aflorem suas vaidades na era digital. Para quem duvida, os números são surpreendentes: o Brasil é o segundo país no mundo voltado à vaidade masculina, está a frente do Japão e atrás somente dos Estados Unidos.
Cuidar da aparência, desenvolver o autocuidado, é importante e uma conquista do homem moderno. Autoestima e autocuidado são importantíssimos para o bem-estar do homem e consequentemente, ao parceiro (a), família, amigos. A BBC News e o portal Terra veicularam que a Coreia pode ser a pioneira na cultura da beleza masculina, uma vez que Joanna Elfving-Hwang, da Universidade da Austrália Ocidental, conduziu uma ampla pesquisa sobre beleza e imagem na Coreia do Sul, apontando tais resultados. O portal registra que alguns homens se incomodam com o fato de serem questionados de sua masculinidade e outros que preferem ser denominados como adeptos a “masculinidades suaves”, que nada tem a ver com uma conotação feminina, segundo os próprios. Por outro lado, se você perguntar para as mulheres sobre o que acham muitas vão dizer que “é exagerado” outras que se incomodam e outras ainda que acham natural.
No entanto, tanto homens quanto mulheres devem viver e expressar o cuidado com seus corpos e mentes de maneira saudável, de acordo com sua individualidade e características únicas. Afinal, cada cérebro é único traduzindo um espectro de tonalidades que representa o quanto são mais ou menos vaidosos. Contudo, o que me preocupa são os exageros e o excessivo culto ao estético, em detrimento aos valores e competências emocionais, recursos estes fundamentais para a integridade, respeito ao semelhante e a boa convivência. Já é conhecido o exemplo do mitológico Narciso*, que o transpondo para nossos dias, além de se afogar no seu espelho líquido**, leva outros “seguidores” junto.
As mídias digitais, a velocidade e muitas vezes, superficialidade das informações, atrapalham e prejudicam os cérebros mais jovens, que ainda não têm a maturidade do discernimento e o pensamento crítico desenvolvido. Preocupo-me com os jovens fãs de jogadores, os vulneráveis adolescentes, que colocam suas vaidades como prioridades: não é o número de boas ações que conta, mas o de tatuagens; não é o valor do esforço que é cultuado, mas o valor do dinheiro e do este é capaz de comprar; não é o quanto estudo ou me empenho para alcançar minhas metas, mas quantos likes tenho no Instagram; não é o esforço que é preciso fazer para alcançar e manter conquistas, mas a facilidade de um clic para fotografar o efêmero valor vazio.
Mas ainda testemunhamos homens que acham que homem não pode chorar, macho que é macho não sente dor e que emoção e autocuidado é coisa de “maricas”. Segundo um levantamento feito pelo Ministério da Saúde 2016, cerca de um terço (31%) dos homens brasileiros não se consulta com médicos para acompanhar seu estado de saúde com regularidade. Segundo o IBGE “muitos dos homens ainda pensam que não ficam doentes ou têm medo de acabarem descobrindo uma doença, além de sentirem fracos por buscarem ajuda”. O IBGE mostra que eles estão vivendo menos. A estes lembro que homem também é humano, são seres emocionais e cuidar do bem-estar e da saúde é cuidar da vida.
Qual então pode ser a sua tonalidade? Comemore, neste dia 15 de julho – Dia do Homem, a sua responsável e especial masculinidade!
* Portal Conceito.de, 2019.de
* * Zygmunt Bauman, em “Amor Líquido” (Ed. Zahar,2003)