Por volta dos 12 e 13 anos, os hormônios provocam muitas mudanças no corpo: a voz dos meninos engrossa, crescem os seios das meninas, ganham-se pelos. Depois dessas transformações tão visíveis, tem início uma outra série de transformações, desta vez de neurotransmissores dentro do cérebro do adolescente, explica Adriana Fóz. As mudanças ocorrem então, não no aspecto físico, mas no comportamento.
“Com 14, 15 anos, o adolescente fica mais irritado, aborrecido, com momentos de “depre”, de querer se trancar no quarto. Isso acontece porque o núcleo de recompensa do cérebro tem menos de dopamina, neurotransmissor responsável pela sensação de saciedade. Por natureza, o adolescente vai estar sempre sentindo falta”, diz a pesquisadora. Portanto, é esperado que os jovens passem a considerar pais e professores como “chatos” e busquem novas situações e experiências, na tentativa de se sentirem “saciados”.
Contudo, Adriana alerta que nem todos passam pelas mudanças exatamente na mesma idade, ou com a mesma intensidade. “Não devemos generalizar, porque não existe uma linha divisória clara como num campo de futebol. Cada ser é único, portanto pais e professores precisam conhecer quem são os jovens com os quais convivem. Tem que procurar espaço de diálogo e se adaptar”, recomenda.
Acolhimento sem permissividade
Aos adultos, cabe o papel de ouvir e orientar o adolescente, um ser que está amadurecendo e precisa se tornar ele mesmo. “O adulto normalmente não escuta o adolescente, escuta o que a gente pensa sobre eles. Mas ouvir não significa ser permissivo, deixar fazer o que quer. É entender o que eles estão passando e orientar assertivamente. Escutar é estar junto nos momentos de dúvida”, afirma a especialista.
Além dos desafios normais da fase, os adolescentes de hoje vivem também em um mundo mais desafiador do que as gerações anteriores. “Temos outro momento histórico, por causa do advento da informática e da velocidade da troca de informações. Os adolescentes hoje são nativos digitais, mas os pais não. É como se eles falassem duas línguas e os pais só uma. Então, é a primeira vez que os filhos sabem mais do que os pais”, explica Adriana.
Mas todos os desafios podem ser ultrapassados com base no diálogo, e fica mais fácil quando se percebe que a adolescência é apenas parte de um grande processo, garante a neuropsicóloga. “Não é mágica, a criança acorda um dia de repente como adolescente. É um processo. Se eu já cuidei da infância, da pré-adolescência, tende a ser mais tranquilo”.
Embora muito desafiadora, a adolescência é uma fase saudável e estruturante da vida. Aos educadores que desejam se aprofundar no tema, fica o convite para participar da discussão. Conheça também um pouco mais sobre a participação do Instituto Inspirare na Bett Educar 2018.
21 Mar 2018
Matéria original disponível em: https://goo.gl/jEuruU