Por Alcione Marques.

 

Temos trabalhado intensamente com os professores nos últimos anos, tanto de escolas públicas quanto privadas. E, o desalento de uma parcela grande do professorado, tem chamado nossa atenção.

 

Mostram-se inseguros em relação a sua atuação, desconcertados frente aos comportamentos dos alunos que não conseguem lidar, desmotivados pelo tão já falado desprestígio do professor, tanto no que tange à remuneração e crescimento na carreira quanto ao reconhecimento social. Embora estas percepções tenham sua legitimidade indiscutível, tem prosperado uma visão do professor em relação a si mesmo que contribui para o seu “desempoderamento”.

 

Os professores parecem confiar menos em seu conhecimento e experiências e depender mais do conhecimento de profissionais de outras áreas. Não é incomum que professores considerem mais válidos os saberes da área médica e psicológica para aquilo que acontece na escola que o seu próprio. A abertura à inter e multidisciplinaridade é muito positiva e necessária, amplia possibilidades e pode favorecer as decisões na Educação, levando ao crescimento de todos os envolvidos. No entanto, percebemos que em muitos casos o professor desqualifica seu próprio conhecimento, como se tivesse pouco ou nenhum valor nestes novos tempos.

 

Além disso, consideram que têm pouco poder transformador frente a crianças que não receberam em casa uma educação mínima para conviver em outros espaços sociais em razão da pouca presença, leniência ou mesmo dificuldade da família no processo educativo.

 

O paradoxo desta situação é que nunca a escola foi tão importante como no momento em que estamos. É um dos poucos espaços que oferece oportunidade de convivência, socialização e troca para um grande número de crianças. Evidentemente, estamos falando da convivência e troca presencial, tão essencial para o desenvolvimento das habilidades cognitivas, sociais e emocionais de crianças e adolescentes.

 

A presença, a convivência, a mediação e a ação educativa do professor são fundamentais para a realização de qualquer futuro que vislumbremos como melhor para as próximas gerações. O único espaço possível para influenciar um número tão grande de famílias é a escola.

 

Precisamos repensar a concepção de que as famílias precisam mudar para que as crianças venham “melhor educadas”. Isso não acontecerá por geração espontânea ou com nossa indignação, por mais justa que seja. A transformação acontecerá quando a escola assumir que é ela uma das poucas instituições que pode, por meio de uma educação escolar de valor, influenciar e transformar a família.

 

Mas para isso precisamos reconhecer nosso poder e nossa potência como professores. Perceber que somos grandes influenciadores e podemos ser valorosos inspiradores dessas crianças e jovens que todos os dias estão conosco. Buscar conhecer mais e compreender as mudanças que exigem que encontremos novas maneiras de ensinar, mas não perder de vista quem somos e o que representamos.

 

Precisamos continuar exigindo do poder público a melhora da remuneração e das condições de trabalho do docente, incluindo a melhoria dos cursos de Pedagogia e das possibilidades de formação continuada.

 

A escola precisa favorecer a troca de experiências entre os professores, fortalecendo o grupo. Abrir espaços para a discussão de situações diversas dos alunos, compartilhamento de soluções encontradas, troca de impressões, sentimentos e angústias frente às vivências do professor na sala de aula. As reuniões semanais têm de ser repensadas para que não se limitem a temas meramente burocráticos.

No entanto, para termos forças para que estas mudanças aconteçam, precisamos nós mesmos tomarmos consciência e assumirmos nosso valor.

O livro Juventudes na escola, sentidos e buscas: por que frequentam? de Mirian Abramovay e outros autores (Brasília: FLACSO, OEI, MEC, 2015, disponível na Internet para baixar gratuitamente), feita com jovens do Ensino Médio regular, de escolas rurais e de EJAs em todas as regiões do Brasil trouxe, entre outras importantes informações, o relato de jovens sobre a importância decisiva de professores em sua trajetória escolar para que não abandonassem os estudos, escolhessem uma profissão e que professores foram decisivos em momentos cruciais de suas vidas.

 

São fatos e evidências do que o professor representa na sociedade. Reconhecer e nos apropriarmos do nosso poder pode ser o combustível para nossa atuação, motivação e, essencialmente, para as mudanças que buscamos.